segunda-feira, 21 de maio de 2012

CRÍTICA DO CONCERTO DE CRISTINA ORTIZ


 
                       Marco Antonio Seta, em 19 de maio de 2012. 
Sinfônica Municipal em noite feliz em concerto infeliz no Municipal de São Paulo.  Com o Theatro Municipal com apenas um terço de sua lotação na noite de ontem, sexta-feira, dia 18 de maio A Orquestra Sinfonica Municipal de São Paulo tocou muito bem , sob a direção de Abel Rocha. Cordas coesas, sonoras, sopros de madeira e metal idem no concerto de Brahms. Como solista a refinadíssima pianista Cristina Ortiz,  radicada na Inglaterra há muitos anos, solou o concerto para piano e orquestra nº 2 , op. 83, em si b maior ao lado de nossa orquestra. O difícil concerto do mestre alemão romântico Johannes Brahms (1833-1897),  deu-se na interpretação da grande pianista, porém sua leitura deste se resumiu a uma correta releitura das páginas que lhe couberam, cuja interpretação foi apenas regular, sem maiores refinamentos musicais e expressividade técnico-interpretativas.  Passou pela partitura  e quem realmente interpretou foi a Sinfônica Municipal numa sonoridade há muito tempo não ouvida por aquela orquestra. A pianista foi solicitada ao final até conceder um bis (da Suíte Bergamasque, tocou "Clair de Lune" numa leitura apenas correta, nada contendo de sublime numa página tão popular e histórica do impressionismo musical).
       A platéia presente, como já foi registrado (apenas um terço da lotação do teatro), quase que totalmente despreparada musicalmente, aplaudia a cada mudança de movimento do concerto: quando isso ocorre, é por que não há educação musical na platéia, o que é gravíssimo numa cidade como São Paulo; requerendo do maestro titular da orquestra e do teatro Educar ! sim.......esse público,  elucidando-o, quando é que se deve aplaudir,  falando-lhe,  nas entre linhas,  que só é recomendável aplaudir ao final do concerto ou da sinfonia apresentada (como muitas vezes faziam Eleazar de Carvalho e John Neshiling na prestigiada OSESP). Caso contrário, a coisa vai de mal a pior a cada função em nosso maior teatro.  Isso se faz neessário corrigir urgentemente.
        Mas o pior estava por vir na segunda parte da noite, após um intervalo de quinze minutos. Do celebrado Segei Rachmaninoff (1873-1943) escolheu-se  "Os Sinos", Op. 35. O maestro explicou que o compositor havia escrito uma terceira sinfonia para orquestra e acrescentou esse título à obra baseada em seus movimentos em número de quatro. Disse também  que a cantora estava gripadíssima, mas que mesmo assim cantaria sua parte. O resultado não poderia ser pior.  Cantou? não cantou:  apenas murmurou o que lhe cabia. Laura de Souza (soprano lírico) que realizou uma boa carreira internacional na Alemanha, voltou ao Brasil, todavia suas atuais condições vocais já não lhe permitem  mais atuar; basta nos lembrarmos de sua infeliz atuação em " Madama Butterfly", em 2008, no ano do centenário da imigração do Japão no Brasil., quando revezou com Eiko Senda nesse imenso personagem Pucciniano. Foi um desastre a sua apresentação nestes "Sinos", uma voz totalmente velada, murmurada, e que em nenhum teatro de respeito,  entraria em execução num concerto desse gabarito e dessa proporção,  tamanha a grandiosidade da obra do mestre russo.  Na mesma gama de importância,  participou o baixo-barítono Licio Bruno, vindo do Rio de Janeiro. Totalmente despersonalizado, incorporou um (lento lúgubre) último movimento da peça, que na realidade,  é uma cena de lamento, poética, e de introspectividade,  como se fosse uma cena dramática da ópera verdiana (mais parecia um "Macbeth" à moda russa), totalmente inadequado às inflexões da maravilhosa sinfonia de Rachmaninoff.  Tudo inadequado, complementado pela participação do tenor "leggero" Paulo Queiroz, também inadequado a essas páginas. Quanto ao Coral Lírico, detentor de imensa masa vocal e poderosa grandiosidade dramática,  poderia-se exigir um maior preparo de dinâmica vocal, o que dosaria melhor o seu volume sonoro na massa musical junto à orquestra, que também interpretou muitíssimo bem a difícílima escrita musical e,  já considerada ousada,  para um momento em que ainda não havia entrado o movimento impressionista na história da música, denotando aí a grandiosidade de que foi o russo Rachmaninoff.       
   

Nenhum comentário: