domingo, 19 de junho de 2016

TAYRONA- ARTE PRÉ-COLÔMBIANA

Para entrar em um Kankurua é entrar em contato com os 

nove mundos e os nove estados de consciência que o 

compõem. Alguns dizem que eles foram além da linguagem

 verbal, usando tons para criar imagens coloridas em suas

 mentes, em vez de pensamentos expressos em frases

. Alguns Kogi falar telepaticamente uns com os outros.De 

acordo com Drunvalo Melchizedek ...Os Kogi não nos vêem

 como "dormir", como muitas das religiões hindu e oriental 

fazer. Os Kogi vêem os humanos como mortas, sombras de

 energia do que eles poderiam ser. Isso é porque eles não 

têm suficiente energia de força de vida e consciência para

 ser classificado por eles como pessoas reais. Os Kogi 

estabelecidos para descobrir por que os 'mortos' ainda 

estavam na Terra. Como eles procuraram os registros de

 vida vibrante desta realidade, eles descobriram exatamente 

onde e por que isso aconteceu. Alguns dos "mortos" haviam 

se tornado vivos, e haviam criado um sonho com força de

 vida suficiente para salvar o mundo como nós o 

conhecemos.Eles criaram um mundo paralelo onde a vida 

poderia continuar a crescer, um mundo onde os mortos

 poderiam tornar-se vivo. Os Kogis foram precisos em

 localizar exatamente quem eram essas pessoas que 

estavam criando essa mudança que alterou o destino do

 mundo.Os Kogi ver essas pessoas com corpos vivos com a

 luz ao seu redor, as pessoas que haviam ativado seus 

Corpos de Luz ou no termo antigo, suaMer-Ka-Ba. aprender

 os segredos antigos do mundo espiritual ou Aluna. Eles são 

os sacerdotes e juízes que controlam a sociedade

 Kogi.Todas as grandes decisões e trabalho xamânico é feito

 por adivinhação. Tudo é o mundo da Aluna, portanto, o 

Mamas ver um reflexo do mundo físico em primeiro lugar no 

mundo espiritual. Se Aluna é a Mãe, em seguida, os Kogi 

ouvir a mãe, por adivinhação. Esta técnica de adivinhação 

perdido é o que mantém o mundo Kogi em equilíbrio e da

 ordem

sábado, 18 de junho de 2016

O assassinado da deputada por extremistas radicais que querem a todo custo desvincular a Inglaterra da União Europeia desestabiliza o Reino Unido. Morte aos traidores. Liberdade para o Reino Unido", declarou o suposto assassino da deputada trabalhista Jo Cox ao ser interrogado neste sábado pela primeira vez no tribunal de Westminster, em Londres.


Na sexta-feira, o premiê anunciou ter chegado a um acordo com líderes da União Europeia (UE) para conferir um "status especial" ao Reino Unido e que ele fará uma campanha de "corpo e alma" para sua permanência no grupo de nações.
Cameron afirmou que o acordo, celebrado após dois dias de negociações em Bruxelas, na Bélgica, incluirá uma cláusula de "interrupção de emergência" de sete anos para pagamentos de benefícios sociais concedidos pelo governo.
O acordo foi considerado "inócuo" por aqueles que fazem campanha pela saída do Reino Unido da UE por conter "mudanças muito pequenas".Thomas Mair, de 52 anos, foi acusado de homicídio doloso da deputada de 41 anos, baleada e esfaqueada na quinta-feira em Birstall, norte da Inglaterra.
Em seguida, o homem, algemado e vestindo um agasalho cinza, permaneceu em silêncio quando o juiz perguntou seu endereço e data de nascimento.



Pela lei britânica, o indiciamento do suspeito significa que a imprensa não tem mais autorização para publicar tais informações, principalmente quanto às motivações do assassinato.Ele foi colocado em detenção na prisão de segurança máxima de Belmarsh, sudeste de Londres, e deve comparecer novamente ante a justiça na segunda-feira, antes do tribunal londrino de Old Bailey desta vez.
A magistrada também ordenou um exame psiquiátrico do acusado.Jo Cox, mãe de dois filhos, foi atingida por vários tiros antes de ser esfaqueada no meio da rua em frente à biblioteca da cidade.As palavras do suspeito ante o tribunal de Westminster parecem confirmar as informações reveladas por testemunhas do crime.

O acordo

Mudanças

A decisão unânime foi anunciada primeiro na cúpula da UE pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para quem o acordo "fortalece a posição especial britânica".
O acordo prevê:
Emendas em tratados da UE para deixar claro que o requisito feito aos países-membros de buscarem uma união cada vez mais próxima entre si "não se aplica ao Reino Unido";Uma "interrupção de emergência" em benefícios concedidos a trabalhadores estrangeiros (vindos de outros países europeus) que pode ser aplicada por sete anos - menos do que os 13 anos propostos por Cameron, no entanto e mais do que o proposto por outros países;Benefícios para filhos de imigrantes que vivem no exterior serão reduzidos ao valor pago nos países de origem dos pais - aplicável imediatamente para novas chegadas e, a partir de 2020, para os 34 mil requerentes já existentes;Autorização para que o Reino Unido tome medidas de segurança de emergência para proteger Londres.
Referendo
A chanceler alemã Angela Merkel afirmou que o pacote de reformas "desperta o apoio necessário para que o Reino Unido permaneça na UE".
 O premiê declarou ter obtido as mudanças que desejava e que colocarão o Reino Unido "no banco do motorista" de um dos maiores mercados do mundo e criarão uma UE "mais flexível".
"O povo britânico precisa agora decidir entre f

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

MARY DEL PRIORE, HISTORIADORA, TOMA POSSE NA ACADEMIA CARIOCA DE LETRAS COM UM DISCURSO NO MAIS ALTO PADRÃO ENSAÍSTICO.

Discurso Posse ACL

  
Caríssimos membros da muito honrada Academia Carioca de Letras, colega Sonia Salles, Senhores e Senhoras, amigos queridos, meus adorados familiares, é com imenso prazer que essa historiadora lhes fala. Pois, além do prazer de, doravante, integrar esta Casa, existe também a admiração pela cultura dos confrades, por seu profundo sentido das realidades humanas, cuja riqueza se lê através do percurso e das convicções de cada um. Convicções plenamente vividas nesta Academia Carioca, Casa que oferece aos seus membros um pacto com o espírito e com as letras.  
Prazer, entusiasmo e encanto me trazem aqui, pois por décadas, tenho me perguntado sobre as afinidades que ligam Letras e História, Literatura e Memória. Estar sob esse teto, é poder, graças ao convívio com os confrades e ao que aprenderei com eles, trazer algumas respostas a essa questão.
Porém, pertencer à Casa, estar entre os seus membros, honrá-los e prestigiá-los é, também, lembrar. Lembrar, enfim, os que não estão mais. Dar-lhes vida, fazê-los presentes nesta tarde, quitar o dever de reconhecimento em relação a eles. Vemos aí a função mesma da história: trazer o passado ao presente. Homenageio-os, então, ainda que de forma modesta, pois haveria muito a dizer dos grandes nomes que foram meus predecessores na cadeira 32.
            Começarei por José Gabriel Lemos Brito, historiador e autor de uma biografia de Frei Caneca e de uma História Econômica do Brasil Colonial. E Mário da Veiga Cabral, professor do Instituto de Engenharia e Instituto de Educação e autor de vasta e duradoura obra didática nas áreas de Geografia e História. Ambos, sinceros conhecedores da vida econômica e das idéias políticas, foram mestres na ciência histórica por meio da qual tentaram capturar a profundidade do passado, além de se engajar na batalha por melhorias no ensino da disciplina. A busca da palavra justa, um consenso dos fatos político-militares, o rigor nas datações, o pontilhismo cronológico fizeram de suas obras um retrato das ciências humanas, na primeira metade do século XX. Ciências preocupadas, então, com os fatos significativos do passado da nação.
Também ocupante da mesma cadeira foi Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, jurista, filósofo, matemático, escritor, senhor de uma carreira brilhante, que despontou aos dezesseis anos na Universidade de Oxford e culminou com uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Senhor de trezentas obras traduzidas no exterior, foi do engenho de Mutange, no Ceará, para postos diplomáticos no exterior. Seu ofício não foi mera profissão. Mas, um modo de vida, um estado de espírito, e, por que não?  Foi uma visão de mundo. Intelectual brilhante, familiarizado com os autores europeus, em especial os alemães, o escritor e jurisconsulto Pontes de Miranda difundiu novos métodos e concepções do Direito no Brasil. Sua obra, pioneira em diversos setores, se distribui por quase todos os campos da ciência jurídica, do Direito Constitucional ao Civil, do Processual ao Comercial.
E, finalmente, Dahas Zarur, jornalista, autor de vários livros sobre a Santa Casa de Misericórdia, instituição fundada, em 1582, por Padre Anchieta, teto que acolheu por séculos nossas crianças “enjeitadas” em sua Roda de Expostos. Misericórdia da qual Zarur foi Provedor por décadas a frente de gestões apaixonadas e controvertidas. Para alegria de todos os que prezam a história do Rio de Janeiro, a Santa Casa tem, agora, como diretora cultural, minha querida professora Maria de Lourdes Horta, irmã do saudoso Luiz Paulo Horta.
Todos eles ocupantes da cadeira 32 fundada por Mário Cochrane de Alencar advogado, poeta, jornalista, contista e romancista brasileiro. Filho de José de Alencar, protegido e amigo de Machado de Assis com quem mantinha relações filiais, - como analisou em ensaio sensível e recente Antônio Carlos Secchin – e, finalmente, membro da Academia Brasileira de Letras, Mário de Alencar, talvez seja quem melhor represente o espírito humanista que deve presidir as academias. O compromisso do intelectual, do acadêmico com o país das Letras, com a defesa de valores desinteressados como a Liberdade, a Justiça ou a Razão, com projetos coletivos que beneficiem o livro e a leitura, foram o seu. Compromisso, aliás, que fez Mario de Alencar lutar incansavelmente para que o Silogeu Brasileiro, atual Academia Brasileira de Letras, ganhasse um teto. O curioso é que laços familiares me unem a essa cadeira, pois, ainda venho a ser parente de Mário Cochrane de Alencar. Minha avó, Lucy Cochrane Simonsen, assim como Roberto Simonsen, seu irmão, eram filhos de Robertina da Gama Cochrane, - de casada, Simonsen -, filha de Wallace da Gama Cochrane, meio irmão de Georgina Augusta de Alencar, mãe de Mário.
Laços de família à parte, a lição dos antecessores desta cadeira, senhoras e senhores, é a de investir sempre numa união útil a todos. União que seja um tesouro de sensibilidades, de experiências e preocupações comuns. E, sobretudo, união de diferenças enriquecedoras. O poeta Paul Valéry, lido por tantos de nós, já sublinhara em relação à Academia Francesa: “Num mundo instável, onde o poder político se encadeia ao absurdo e ao imediatismo, além de engajado na luta perpétua por sua própria existência, a resistência à pressa, à confusão, à versatilidade das paixões reais ou simuladas é indispensável. Pensemos numa ilha – a Academia - onde se conservaria o melhor da cultura!”.
Ilha, “insula”, palavra que remete ao isolamento. Mas, no caso seria apenas um empréstimo literário de Valéry, pois as atuais academias, outrora “Societés Savantes”, menos e menos se parecem com suas avós, fundadas entre os séculos XVII e XVIII. Hoje, elas caminham para uma participação maior e melhor na sociedade. A busca de sinergia entre escritores e leitores, o apagamento entre a língua erudita e a popular, o entusiasmo pela palavra, no papel ou na tela, no livro ou no blog, constituem uma agenda nova para todos que desejamos trabalhar por um país letrado.
Integrada a essa proposta, ou seja, a da construção de um Brasil que preze seus escritores, é que me pergunto se o arquipélago não seria uma definição melhor para determinar a multiplicidade de tendências – as tais “diferenças enriquecedoras” as quais me referi – que, atualmente, vemos se consolidar nas variadas academias. E nessa luta pela valorização de individualidades, de singularidades capazes de criar um novo espaço de autores, escritores, pesquisadores, porque não discutir, nessa Casa, uma Casa das Letras, a possibilidade de a história ser uma forma de literatura contemporânea?
Digo isso, pois é preciso conhecer a história da disciplina histórica para saber que literatura e história já andaram de mãos bem dadas, por muito tempo. Sem dúvida fronteiras são necessárias. A história não é, e jamais será ficção, fábula, delírio ou cópia. A distinção que Aristóteles opera entre poesia e história, no capítulo 9 de sua Poética é, deste ponto de vista, fundadora.
Mas esse distanciamento desejada pelo filósofo, não condena o historiador a ser um órfão da poïesis. A sua inventividade nos arquivos, o seu engenho no emprego de métodos e conceitos, a sua criatividade no uso da narrativa ou do léxico têm, em si, um sentido forte.  Ela – a inventividade, na ficção ou no discurso histórico - é um ato criador. E sabemos: o historiador trabalha, conjugando uma produção de conhecimentos, uma poética do saber, mas, também, uma estética. E, portanto, o problema, como sugeriu Jacques Ranciére, não é “saber se o historiador deve ou não fazer literatura. Mas qual literatura ele faz”[1]. Poderíamos dizer a mesma coisa, do escritor em relação às Ciências Sociais: o problema não é saber se ele fala do real. Mas se, por meio de sua escrita, ele oferece condições de compreender a realidade.
Penso que o importante é não ter mais constrangimentos. É ousar. É experimentar coletivamente. É imaginar uma História que cative, que emocione, pois, então, ela será capaz de demonstrar fatos passados e desvelar a vida dos ancestrais de tantos brasileiros que ainda desconhecem suas raízes. Que ignoram sua identidade. Que antipatizam com a vida dos ancestrais. Essa história hibrida existe e é chamada por alguns historiadores de creative-history[2].
Mas meu papel aqui, hoje, é cansá-los um pouquinho, e vou fazê-lo lembrando que, desde a Antiguidade, se tenta extrair da história as suas bordas literárias. De Heródoto a Tucídides, os debates sobre, se o historiador poderia embelezar, idealizar ou caricaturizar, existem. A história, então, se misturava à poesia, ao mito, ao elogio, à grandiloqüência. Veja-se Heródoto, Tácito e Tito Lívio, divididos entre o panegírico e a verdade. Como que antecipando o relativismo em que vivemos, eles intuíam que a verdade absoluta e objetiva não existe. Existe, sim, aquela que é construída subjetivamente pelo discurso de cada um.
 Eis porque, para muitos, as formas literárias seriam uma ameaça. A severidade deveria estar presente nas genealogias bíblicas, nos nomes de reis gravados nas acrópoles, nas efemérides dos pontífices. Houve sempre quem discordasse. Cícero por exemplo. Para ele, o simples narrator, não bastava. O exornator – o que adorna – deveria exibir todas as qualidades da sua escrita.
 Mais tarde, na época clássica, quando surgem os primeiros tratados sobre o que seria a matéria histórica, o pregador e ensaísta Pierre le Moyne no seu De l´histoire anunciava que “era preciso ser poeta para ser historiador”. Na contramão, seu contemporâneo, Jean Bodin, pregava a importância da “historia nuda”: despida, sóbria, simples direta”. O debate prosseguia.
Até o século XVII, momento do nascimento das Belles-Lettres, ou da chamada República das Letras, uma comunidade abstrata reunia poetas, filósofos, moralistas, historiadores e até astrônomos[i]. Com a proliferação de salões literários, academias, mecenatos, da imprensa e, sobretudo, da codificação de uma linguagem definindo o que fosse o “homem de letras”, o historiador se tornava, por osmose, também um escritor e vice-versa. Um era o outro. Os romances de Walter Scott demonstram que o mesmo escritor que idealizava cavaleiros e castelos, usava, como qualquer historiador, as informações extraídas das crônicas medievais, conservadas em velhas bibliotecas ou arquivos.
Outro exemplo importante da afinidade entre literatura e história, temos em Chateubriand. De seu Ensaio sobre as Revoluções ao Memórias de Além-Túmulo, ele fez de tudo: história de sua família, autobiografia, história do Antigo Regime, da Revolução de 1789 e de Napoleão. No início do século XIX, os historiadores-escritores inspiraram uma geração de escritores-historiadores com seus temas, cronologias e narrativas. O Ivanhoé Walter Scott foi seguido por Notre Dame de Paris, de Victor Hugo, de Os Chouans de Balzac e dos romances de capa e espada de Alexandre Dumas.
Alguns como Alfred de Vigny, e entre nós, José de Alencar, tinham o zelo de citar ao pé da página, os documentos históricos dos quais extraíam informações para sua ficção. O uso de mapas antigos, imagens, descrições, diálogos, detalhes e até viagens – como a que fez Chateubriand à Itália para escrever Os mártires - “vivificavam a história”. Lembro aqui que, décadas mais tarde, Marguerite Yourcenar fez a mesma viagem para escrever seu Memórias de Adriano. Tal conjunto de fontes documentais sempre permitiu ao leitor acreditar que, apesar da distância, os homens do passado eram dotados de vida e habitados por paixões. Torneios, raptos, festas e crimes faziam de duques, princesas e reis, contemporâneos dos leitores, tão bem descritos, vivos ou “ressuscitados” como diria o historiador Jules Michelet.
 Reações, sim. Na universidade de Leipzig, Ranke recusava qualquer linguagem poética e brandia o que denominava “imparcialidade”. Segundo o mesmo autor, dever-se-ia fazer história “cheio de calma soberana”. Conseguiu? Não, totalmente. Quando teve que descrever a bravura do rei francês Francisco I, na batalha de Milão, Ranke usou os mesmos artifícios que criticara: metáforas, exortações, e até o “Quem sabe se...”, o primórdio da história contrafactual que começa sempre com o “Se’: Se Getúlio não tivesse se suicidado? Se tivéssemos perdido a Guerra do Paraguai? Se Dilma não tivesse vencido? Ora, exatamente por permitir a conversa entre literatura e história, ficção e fatos é que, junto com Michelet e Macaulay, Ranke vendia tantos livros quanto hoje são vendidos best-sellers que tratam da II Guerra Mundial![ii]
            Usando as mesmas linhas cruzadas entre ficção e história, Balzac fez pela França o que nenhum historiador na época conseguiu fazer para a história do Egito ou de Roma: ele pesquisou, registrou, explicou estabeleceu a significação das ações e dos protagonistas. No século XIX, tratou de questões que a historiografia foi buscar apenas, em meados do século XX: a evolução social, suas hierarquias, práticas e tensões entre grupos, as idades da vida, a moradia, os hábitos, o lazer, o sexo, enfim: um programa de história social. Com o agravante de que, aos olhos do leitor, seus romances são mais autênticos, mais demonstrativos, resumindo, mais verdadeiros do que qualquer tese universitária. A Comédia Humana, com seus vários personagens e cenários, tornou mais visível do que nenhuma outra obra, a sociedade pós-revolucionária francesa.
A agenda dos escritores realistas – no Brasil temos o maior representante em Machado de Assis – não era muito diversa de um historiador, hoje: vontade de descrever a realidade sem idealizá-la, interesse pela vida do povo e as coisas do cotidiano, evocação dos problemas sociais da época. Mas esse excesso de realidade não seria daninho?  Flaubert em carta a Louise Collet profetizava que “a literatura iria tomar os contornos da ciência” com seu interesse pelo real, pelo vivido ou pelo quase jornalístico. [iii] Tinha razão. Para escrever Germinal, Emile Zola assistiu a reuniões sindicais, desceu nas minas de carvão e estudou obras de grandes alienistas para reproduzir os sintomas de doenças profissionais que atingiam os mineiros. Nos Estados Unidos, John Steinbeck visitou e percorreu os campos de imigrantes da Califórnia para escrever As vinhas da ira. As Letras se deixavam impregnar, mais e mais, de Ciências.
A partir de 1870, também os historiadores adotaram “um ponto de vista estritamente científico” – como resumiu um deles, o positivista Gabriel Monod[iv]. Mas o problema prosseguia: quando havia literatura demais, a história desaparecia. Quando havia de menos, não sobrava nada. Se, durante o Romantismo, a história vivia em osmose com a literatura, à medida que a disciplina se institucionalizava, nas universidades, nas cátedras, nos concursos, esse convívio, antes visto como benéfico, passou a ser considerado muito narrativo, lírico e até patético – pateticismo do qual foi acusado injustamente, por exemplo, Michelet. A regra, então, foi fazer do historiador uma criatura independente, descolada do homem de letras. Doravante, sem emoção, sem tendências e sem aparatos, a História convergiria para a história-ciência.
O cientificismo e o positivismo, presentes na literatura realista, impunham a objetividade como regra. O importante era buscar o fato. Descrevê-lo como se o historiador estivesse em cena, com lupa e microscópio à mão, e, sobretudo, com linguagem comedida e policiada por métodos e teorias. Enquanto a literatura se libertava, a história se prendia mais e mais às corporações, aos cargos na carreira, aos arquivos, construindo zelosamente as bases da chamada Escola Metódica.
 É nesse momento que observamos a ruptura, ruptura voluntarista e imposta por um determinado grupo de historiadores-funcionários-universitários, entre o historiador - escravo do real, da seriedade, da ciência. E o escritor, senhor da arte da imaginação e da subjetividade.
Não há tempo aqui para descrever o peso da escola Metódica na consolidação de textos pesados, nos quais o “Nós” majestático substituía o Eu narrador. Em que notas de rodapé tomavam páginas inteiras e a obrigação de debates teóricos empestava os livros de História.  A partir dos anos 60, o marxismo fez o resto: a camisa de força das “lutas de classe”, do predomínio das interpretações econômicas sobre o cultural ou o social, das dezenas de anexos com dados quantitativos, enterrou definitivamente a possibilidade de uma narrativa sedutora. Eric Hobsbaw, historiador marxista inglês, talvez seja a única exceção a essa maré de textos que se lê com o mesmo cansaço com que se escalam montanhas. O pior era o sentimento de transgressão ou lesa-cientificidade que se tinha ao romper com tais pressupostos.
O curioso, porém, é que mesmo autores ditos marxistas como Fernand Braudel, escreveram clássicos como O Mediterrâneo no tempo de Felipe II, verdadeiro afresco com intrigas, ações, um herói, (o próprio Mediterrâneo) e metáforas as mais variadas. Ou, outro exemplo, Georges Duby que ao publicar seu Guilherme, o marechal, teve a coragem de dizer que escreveu um livro que ele gostaria que se lesse “como um romance de capa e espada”.
Ao final dos anos 80, vários historiadores se insurgiram contra a servidão voluntária, a obediência cega aos métodos marxistas e quantitativistas que vicejavam nas universidades. Lawrence Stone, Georges Duby, Nathalie Davies entre outros resolveram dar prazer ao leitor. Resolveram dar prazer, mas, também, ter prazer na redação da pesquisa[3]. O resto? O resto se seguiria com as regras do ofício: rigor, honestidade, ritmo. A moda das biografias, a necessidade das descrições no lugar das explicações, as “artes de contar” esmagaram a obsessão com as estruturas. Historiadores do porte de Michel de Certeau, Paul Veyne, Paul Ricoeur[v], entre outros, demonstraram, cada qual com seus métodos, que a história tinha necessidade de intrigas, de figuras de estilo, de cenários. Veyne chega a dizer que não há “diferença entre história e ficção” ou que “a história é um romance verdadeiro”.  Enfim, os debates são profundos e não vou submergi-los com eles.
Mas eles desembocaram numa mudança. E o que interessa, hoje, é discutir melhor o papel e a definição da “não ficção” – pois a história é assim considerada. Ela está num mesmo saco, junto com as reportagens, os guias de viagem, as autobiografias e coletâneas jornalísticas. A história, como os demais textos, tem uma função cognitiva – ela informa, explica, interpreta, ensina, transmite. Mas ela não é só uma coleta de fatos. É, sim, uma forma de educação cidadã. Ela pode atuar na praça pública, pois participou das lutas pela liberdade e pelas verdades, lutas que atravessaram o século XX. Ela serve para combater a indiferença, a intolerância, a amnésia. E para fazer a História avançar no século XXI, não se trata mais de repetir Walter Scott ou Balzac. Não se trata de renunciar a todas as regras do ofício. Não se trata, tampouco, de reconciliar história e literatura, um casal que tenta se divorciar a tempos. Mas, sim, de favorecer o encontro entre método e narrativa.
Senhoras e senhores. A Academia Carioca de Letras será o espaço privilegiado, dentro do qual e na troca com os confrades, poderei elaborar, não mais uma história que se “fará literária” pelo empréstimo de lantejoulas ou plumas. Mas, uma história mais vibrante, sensível, que indague, investigue com método, rigorosa, sendo igualmente mais reflexiva e honesta com ela mesma.
Eu comecei mencionando as ilhas de excelência que foram e são as Academias. Gostaria de retomar a imagem para dizer que historiadores são como Robinson Crusoé em sua ilha, se dando por missão investigar, nomear, tentar compreender a organização dos fatos, a coerência de uma cultura, a mecânica do social.
Como tantos colegas, faço história como se exuma um cemitério. Só que nem sempre achamos os mortos. Ao aprofundar as escavadeiras que arranham o solo duro com suas longas forquilhas de aço, procuramos o passado inacessível. Sabemos que ele está lá, sob a forma de uma substância observável, tangível, cercada de precauções de uso, suscetível de ser trazida a vida. Tal quantidade de passado não é só terra, poeira e ossos.  Pois para dar vida aos mortos, é preciso mais do que identificá-los. É preciso um caminho para encontrar o tom justo, o bom ritmo, a imagem, a cor, a música, a emoção, tanto para trazê-los à superfície, quanto para descrever o seu tempo. É necessário buscar as palavras, achar a visibilidade na invisibilidade, captar o som de passos perdidos, o balanço de uma flor, uma sombra na calçada. Uma sombra que poderia passar despercebida, continuar não nomeada, ninguém a alcançaria, se o historiador não estivesse lá.
E por isso, Senhoras e Senhores, penso é preciso tentar construir uma história que se queira também literatura, uma história-criativa. Nela, pretendo me exercitar como o mestre chinês que, segundo a tradição, desenhava cotidianamente um leão. Com o objetivo de desenhar, no fim da vida, o leão perfeito.
Muito obrigada.

 20 de agosto de 2015 - Rio de Janeiro, Brasil 





[1] - Ivan Jablonka, L´Histoire est une litterature contemporaine – Manifeste pour les Sciences Sociales, Paris, Seuil, 2014, p.19.
[2] -.Ivan Jablonka, L´Histoire est une litterature contemporaine – Manifeste pour les Sciences Sociales, Paris, Seuil, 2014, p.19.
[3] - Ver o emblemático artigo de Stone “Revival of narrative”, Past and Present, 1979.



[i] - Michel Mafessoli,  La Republique des Lettres, Paris, Gallimard, 2012.
[ii] - Sobre o tema ver Marcel Gauchet, “Les Lettres sur l´Histoire de France de Augustin Thierry”, in Pierre Nora, dir. Les Lieux de Mémoire, vol.2, La Nation, tomo I, Paris Gallimard, 1986.
[iii] - Gustave Flaubert, carta a Louise Collet de 6 de abril de 1853, Correspondance, Vol.2, Paris, Gallimard, 1980, p.289.
[iv] “Du Progrés des ètudes historiques em France depuis le XVIe siècle”, Revue Historique, Tomo I janeiro-junho, 1876, p.5-38.
[v] - Paul Ricoeur, Temps et récit., vol. I, Paris, Seuil, 1983, Jacques Ranciére, Les noms de l´Histoire, - Essai de poetique de savoir, Paris, Seuil, 1992.

domingo, 26 de julho de 2015

A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA


BENJAMIN GENOCCHIO


2015-05-13




Okwui Enwezor comprometeu-se a re-imaginar a Bienal de Veneza e a exposição que criou, dividida entre o Arsenale e o pavilhão italiano no Giardini, prova que é um homem de palavra. Concebeu o que só pode ser descrito como a bienal mais sombria, triste e feia de que há memória; uma mostra que, em nome da acção global e da mudança social, massacra o visitante com teoria política, em vez de nos dar os prazeres e a estimulação da grande arte. A sua visão do mundo é desolada, irada e deprimente.


A Bienal tem 120 anos de idade e se ainda tem valor como exposição está no facto dela oferecer, numa plataforma influente, perspectivas sucessivas e muitas vezes conflituosas sobre a prática artística contemporânea e a sua relevância para o mundo em que vivemos. Podemos não concordar com a visão de Enwezor da arte e do seu papel utópico no mundo de hoje - eu certamente não concordo - mas não há como negar que o mundo hoje enfrenta divisões e crises profundas e um futuro incerto. Vale a pena explorar como é que essas forças têm impacto nos artistas, eu concordo.
Temos que admirar a sua perspectiva, pois esta é, possivelmente, a exposição da Bienal curatorialmente mais rigorosa que eu já vi em 20 anos que venho aqui. O Dogma impera numa mostra que é muito bem desprovida de beleza, aspiração, ironia ou diversão. Há também uma atenção para com a arte que está a mostrar ou a lidar com a violência, que para mim é profundamente perturbador. A suas preocupações pessoais são igualmente frontais e centradas: usa a sua autoridade como o primeiro curador da Bienal de ascendência africana para validar artistas da periferia do mundo, da África especialmente, reunindo 136 artistas de 53 países, 89 deles estão 
Enwezor, de origem nigeriana, é conhecido pelas suas preocupações com a diversidade geográfica e por uma firme abordagem anticapitalista à arte. Mas as suas obsessões curatoriais alimentam dúvidas persistentes sobre a legitimidade do tema geral da exposição, "Todos os futuros do mundo" (que, aliás, soa como o título sem sentido de um filme de James Bond) e a relevância do tipo de arte que ele pretende promover. Todos sabemos que o mercado é uma força na produção da arte contemporânea e ignorar as implicações mais amplas deste facto sobre a arte parece, digamos, inútil, perverso e ingénuo.
Enwezor inteligentemente procura explorar o descontentamento generalizado do mundo da arte em relação à ordem actual das coisas. As pessoas não estão satisfeitas com o sistema da arte e com a forma como este perpetua uma desigualdade de oportunidades real e destructiva de muitas maneiras. A sua resposta mais controversa a este problema é ter um artista-arquiteto célebre, David Adjaye, a construir um palco no pavilhão italiano e, em seguida, convidar artistas para comissionar leituras de vários textos políticos; Por exemplo, a contribuição de Isaac Julien é uma leitura de todos os quatro volumes da obra de 1867 Das Kapital, de Karl Marx. É um golpe político pateta na fronteira do kitsch, dado que o texto de Marx tem relevância limitada para a arte ou para a vida em 2015, ou para um evento elitista do mundo da arte como a Bienal de Veneza. O gesto provocou uma resposta imediata de artistas que colaram panfletos de protesto sarcásticos em torno da mostra. Os panfletos gozavam com Okwui e Karl Marx, perguntando o que estes dois têm em comum no contexto de uma exposição de arte internacional.
O debate sobre a fetichização do objeto como mercadoria encontrado nas páginas de Das Kapital já acabou, foi embora, pois hoje a nova mercadoria no nosso meio é a informação e a questão central que enfrentamos é como a podemos avaliar e comercializar. O objeto em si tem menos valor e identidade nos dias de hoje; é mais acerca do evento, especialmente para a arte. Teria sido mais relevante ler, digamos, a posição de Thomas Piketty sobre os padrões sociais e políticas que sustentam a actual desigualdade económica (uma ideia que me foi sugerida pelo curador Gianni Jetzer) ou qualquer quantidade de livros lidando com uma dissolução de uma distinção entre informação e conhecimento.

ROMANCE DOLORIDO: ‘A IMAGINÁRIA’, LIVRO DE ADALGISA NERY, É RELANÇADO 35 ANOS DEPOIS




Na obra da brasileira escritora, jornalista e política narra seu casamento perturbador com o pintor Ismael Nery
A mãe morre quando ela é menina. Aos 8 anos, vai para um internato. O pai casa-se novamente, com uma italiana irascível. Aos 14 anos, apaixona-se por um homem seis anos mais velho, “de sensibilidade aguçada”. Casa-se aos 15, e muda-se para a casa da família do marido, um trio de mulheres alucinadas, em que se destaca a mãe beata com delírios persecutórios. Sua residência, mais tarde, é frequentada por intelectuais e artistas — de cujas animadas conversas, apesar de inteligente e curiosa, é alijada. Diagnosticado com tuberculose, o marido confessa ter um caso e, entre outras atitudes impiedosas, pede-lhe que procure a amante em seu nome. Jovem viúva com filhos pequenos, foge das sandices da sogra mudando-se para uma pensão, e sai à cata de emprego. É assim, entre episódios de mesquinharia, crueldade e loucura, que transcorre a vida de Berenice, narradora do romance “A imaginária”, de Adalgisa Nery. Assim transcorreu a vida da própria Adalgisa, contada neste livro de autoficção que chega às livrarias depois de 35 anos fora de catálogo, desde a morte da autora. Uma escritora dividida entre mundos com um talento forte e aprisionada com o primeiro marido o artista plástico Ismael Nery.

RECEITAS E A ANTROFAGIA


Antropofagia, Montaigne e uma receita especial


Como filósofo francês enxergou o canibalismo dos tupinambás – e de que modo este choque cultural inspirou um caldinho original, cuja receita oferecemos
Poucas ideias foram tão fecundas em galvanizar a identidade brasileira quanto aquela que está no centro do Manifesto Antropófago, publicado por Oswald de Andrade em 1928, no primeiro número da Revista de Antropofagia. “Só a Antropofagia nos une!”, bradou o poeta, e assim cunhava o termo, saudando a um só tempo a ancestralidade e o devir da cultura nacional.
Falava da “devoração” cultural do outro, tendo como símbolo a devoração “literal” praticada por alguns povos indígenas nativos das terras que vieram a se tornar o Brasil. Ou seja: apropriar-se do outro nunca nos fez menos “brasileiros”, ao contrário, essa flexibilidade e capacidade de diálogo é que nos faria o que somos. Ao menos assim seria neste utópico mito de origem modernista.
A nação mestiça brasileira ganhava um ato de fundação: nada de levantes políticos ou militares, mas sim a “Deglutição do Bispo Sardinha”, o primeiro europeu a entrar oficialmente no cardápio dos índios brasileiros, no caso, da etnia caeté. O fato, que ocorreu em 1556, foi usado para difundir a fama de “barbárie” dos povos nativos da América.
Mais ou menos nessa época, meados do século XVI, o filósofo francês Montaigne tratou do Novo Mundo, principalmente as terras ocupadas pelos seus compatriotas, onde hoje é o Rio de Janeiro. Contestando a pecha de “novos bárbaros” que recaía sobre os índios dos quais teve notícia (provavelmente os tupinambás), Montaigne escreveu o ensaio “Dos canibais”, abordando o tema que causava espanto na Europa. A partir de relatos, Montaigne se impressionou com o profundo respeito com que os índios tupinambás devoravam os seus inimigos capturados na guerra – talvez, pensava ele, com o intuito de absorver-lhes a coragem e a força. Aliás, segundo o francês, os próprios capturados não tentavam escapar, pois isso representaria algo como uma confissão de covardia. E ele via nisso um contraste com o jeito europeu de tratar seus prisioneiros e, também, de querer sobreviver a qualquer custo, mesmo que isso representasse a desonra.
Aproveitando o mote, e em retribuição à homenagem de Montaigne, oferecemos aqui a oportunidade de devorar e saborear um clássico francês. É a Vichyssoise Tupiniquim. A principal diferença em relação ao tradicional caldinho francês é que a batata é substituída pela mandioca.
A receita é de Raphaela Homem de Melo, chef da OCA Tupiniquim. Ela incluiu a dica de preparar em casa um caldo de legumes natural e, também, de finalizar com uma maravilhosa chantilly de noz moscada.
Aproveite e depois nos conte como ficou!
Vichyssoise Tupiniquim
Ingredientes:
500 g de mandioca sem casca
4 talos de alho-porro cortado em rodelas
3 colheres de sopa de manteiga
Sal a gosto
Pimenta branca moída a gosto
Caldo de legumes natural

Para o caldo de legumes natural:
2 litros de água
1 cenoura descascada e cortada ao meio
1 cebola inteira descascada e cortada ao meio
As folhas do alho-porro que restaram dos talos

Preparo: despeje todos os ingredientes na água e colocar para ferver. Depois que levantar fervura, deixe cerca de 15 minutos, até que este caldo fique bem saboroso. Coe e reserve para cozinhar a mandioca.
Modo de preparo:
Murche as rodelas de alho-porro na manteiga. Acrescente a mandioca, o sal, a pimenta e o caldo de legumes. Deixe cozinha até que a mandioca esteja bem macia. Processe tudo em um liquidificador e coe. Sirva bem quentinho.
Sugestão: finalize o caldo com chantilly de noz moscada