sexta-feira, 24 de outubro de 2008

INTELECTUAIS E ESPECIALISTAS OPINAM SOBRE A 28ª BIENAL DE SÃO PAULO

Respectivamente,José Maria Mejhias,Mary del Priori e Vicente de Percia
28ª BIENAL DE SÃO PAULO,"EM VIVO CONTATO", de 25 até 06 de dezembro 2008


Os convidados :José Maria Mejhias-J.M.-(Escritor,crítico,mestre,pesquisador de Arte Contemporânea Latina Americana,professor de estética,poeta,com várias publicações);Mary del Priori-M.P.-(Históriadora,palestradora,Doutora em Museologia com vários livros publicados e premiados);Vicente de Percia-V.P.-(Crítico,ensaísta,mestre,membro da A.I.C.A,pesquisador da Bienal de São Paulo,juri de vários salões,curador,com vários livros publicados).Bow Art-B.A.-


B.A. - A 28ªBienal de São Paulo,ficou conhecida como "Bienal do Vazio",mas que adota o título oficial de "Em Vivo Contato".Essa dupla titulação,principalmente tratando-se de uma Mostra Internacional,não acarreta mais polémica e incerteza quanto aos objetivos a serem alcançados?

J.M.-De imediato fico curioso na questão da imagem,pois o título adotado induz a questão do questionamento da estética,a grande produção atual é extremamente abrangente em todas as possibilidades inclusive de representação.O tema intui poderes e direcionamementos de certa domesticação.A idéia mais profunda de universalidade como as redes de informática,vídeo figuram,também como suportes.Creio que se essa perda de singularidade onde se afirma quase obstinamente o fim e o início de algum estágio de criação é uma temporalidade reacionária política.Os últimos eventos similares à Bienal, ocorreram nesse erro.O mais correto é buscar elementos que se distancie de uma linearidade compulsiva.


M.P-Para uma simples espectadora a dupla titulação cria, no mínimo uma interrogação.Numa primeira mirada,"vazio & contato" pressupõe situações excludentes.Mas ambas as palavras permitem,também,outras leituras:o vazio como espaço de construção possível;como agenda de um projeto no qual a maneira de Sarte,a Bienal"se faria fazendo".

V.P-Espero que seja montado em torno dos temas propostos e elementos que solidifiquem o Evento. "Bienal do Vazio" - não vejo nada de mal em adotar este significado,pelo contrário,acho desafiador e possível, junta-lo a segmentos no exercício da Arte que vislumbre "uma rede" na busca de identidades ou enfoques especificos,perceptivos quanto a organização social,a legitimação,o mercado,rupturas e erros.Teríamos um objetivo:analisar o que vimos,o que está para vir e o que não deveria repetir-se.

B.A-Segundo os curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen um dos motivos seria diminuir o ritmo para que se possa questionar a História das Bienais de são Paulo.Partindo de uma visão sincrônica,o feed beck e os múltiplos registro poderão ser observados e colhidos ao longo das décadas.

J.M-Os últimos eventos semelhantes cogitavam em viabilizar o "novo & diferenciado".Quer a todo custo impor um processo de transformação até mesmo na abstração visual.No todo observamos uma contextualização generalizada que se perde por idéias subjetivas onde o centro de atração é o artista que fala,a obra fico em quinto plano - no caso, para mim se estabelece o vazio.É realmente um desafio buscar uma visão diacrônica(todo) partindo de um tema,penso que essa tarefa deve ser feita a longo prazo.

M.P-Como historiadora,me agrada a idéia de ver reconstituídas as permanências e rupturas observadas ao longo do tempo e as relações da arte com as diversas conjunturas políticas,sociais e culturais pelas quais passou o país em especial,São Paulo.A história das instituições é um domínio rico e complexo que nos ensina sobre as condições de produção e difusão das idéias e das representações,sobre os espaços de formação e de coerência entre artistas e intelectuais, e sobre as redes de poder que se estabelecem a partir daí.

V.P- A estratégia para se chegar a essa meta de início parece-me frágil.O fato histórico requer uma imersão profunda.A visão crítica dentro desse contexto fortifica inúmeros questionamentos tais como:continuamos a ser colonizados a partir do pressuposto que devemos "mudar"?;de que forma, assumimos um comportamento globalizante?;chavões como fugir do consumo ou virar as costas para a produção.Quais os parâmetros de abordagens para situar o presente,passado e a tarefa artística atual?Procurar uma saída é se distanciar sem nenhum saudosismo,e esquecer os fenômenos que outras gerações passaram;o porquê dos dados superficiais?Há uma estagnação cultural?;após o relativismo praticamente não há contestação.Vivemos tempos de concordância e domesticação.

B.A- Outro fato bastante discutido é o posicionamento dos curadores de não preocupar-se com o grande público,ou seja ativar a mídia no tocante às visitações,nem obter um comparecimento maciço,aliais como tem sido feito.Elitizar,talvez?

J.M -Quanto mais abrir as porteiras melhor,o importante é também, captar a imprevisibilidade do inconsciente.Nós não temos o hábito, nem condições econômicas e apóio cultural para de ir de encontro aos eventos formativos.Com um chamamento dos meios de comunicação,a presença será maior do que a esperada.O ideal é interagir com os multifacetados segmentos sociais,principalmente na América latina.Mostrar as contribuições das civilizações e os ciclos através do tempo.

M.P- Ou um bom pretexto para conhecer melhor o público que comparece à Bienal.Trata-se de uma público culto?De pessoas que acumulam outras idas à Bienal?De gente ativa e com pouco tempo?sabemos que hoje em dia,o público ocupa um lugar central nas políticas dos estabelecimentos culturais,se constituindo num campo de intervenção para serviços e especializados do tipo visitas-guiadas,palestras,atividades lúdicas,etc...Isto está ligado às exigências de financiamento de exposições e as necessidades de democratização cultural.Estudos demonstram que quanto mais escolarização maior vontade de "gozar a arte".Deste ponto de vista,a posicionamentos dos curadores pemitiria certamente avaliar o quanto estamos "escolarizados".

V.P-Sinceramente,não creio que seja essa a idéia dos curadores.No caso especifico, buscam repensar a visita,formulando outros compromissos, visto que já conhecem os métodos anteriormente empregados.Vejo que estão indo de encontro a um aperfeiçoamento,de certa forma inovador, desfazer-se de uma escravidão metodológica,como elemento constante na Bienal de São Paulo; uma visitação passiva;os agentes merecem uma nova experimentação nesse aspecto.Dessa forma, articular outra forma de visita e com isso, integrar-se ao tema proposto-ver um novo espaço,criar novos ares.Outro fato que acho importante é não cair na repetição,as várias Bienais têm sido repetitivas quanto a permanência quase cativa de inúmeros artistas(convidados).A 28ª Bienal,através de seus curadores mudou essa constância,antes semelhantes as reprises de filmes nos canais de TV.
B.A.-Qual sua opinião diante das seguintes declarações dos seus curadores publicados pela Imprensa.
"Esse projeto nunca se colocou como uma negação.O vazio se propõe com espaço de potência,de repensar,entrar no ar"
J.M-São posicionamentos que só podem serem avaliados após o término da Bienal.Acho o tema relativamente fechado,pois da mesma maneira que gerenciamos o nosso tempo,ele pode ser alienante ou construtivo.O Vazio em si,não significa não pensar,apesar de marcar uma estética atemporal,usando uma metáfora,dentro do mesmo esquema.Como chegar lá?Sem regras ou direcionamentos pré-estabelecidos?Faz parte do estrago causado pela tradição cartesiana?
V.P.-Critérios de avaliação múltiplos?Obra x desordem;x harmonia;x caos;x belo?O espaço seria o suporte central dessa Bienal e ao olhar caberia toda uma elasticidade?Diferente das ciências exatas a arte acolhe um vis-a-vis fora do alcance e cultiva "dizeres e sofismas,conceitos,devaneios e mesmice" indo de encontro a improvisação e distanciando-se do imaginário convidativo que abarca a idéia.Qual a preocupação da génese da estética?Para relembrar nas artes plásticas dos anos 10 e 20 do séc xx,surgia o cinema experimental cuja origem estaria no futurismo.E agora?
M.P- Os curadores talvez estejam nos convidando a perceber a arte como uma dimensão plural da sociedade,cada vez menos dependente de critérios arbitrariamente definidos,e mais ligada à diversidade de desejos e de necessidades de artistas e do seu público.A filosofia estética moderna abriu,também as portas para outras questões que podem estar aí contidas:o gosto é relativo?A beleza é fundamental?etc.
B.A-" Estamos propondo um outro tempo de ver,uma exposição".Que tempo é esse?
J.M- Há uma colocação por parte dos curadores válida,expressiva para ser inserida no seu transcurso,ou seja o olhar além das obras expostas,fugir a certa direcão e enfrentar um tempo de comformismo e repetição.Abre-se possibilidade de situar a arte na busca de resultados mais abrangentes,no complexo da atividade humana.Há o lado estático da atividade;voltada para as ciências exatas e essa correnteza é um dos processos adqüiridos atualmente, inclui-se nela: a moral,a génese das múltiplas linguagens,a religião,etc... que situam-se em outros diferenciais.A contestação de arte-ciência e seus derivados tem chamado atenção para a produção artística,principalmente por utilizarem-se da tecnologia,serem mais reflexivos quanto a sua construção.Trazer a comunicação atrelada a arte e fazer da "atividade" fonte para os conceitos de estética é essencial.Quando surgiu a arte? - um outro tempo de ver a Bienal - a transformação da idéia e consegüentemente, novas posturas,atingem a atividade artística - aí surge um tempo localizado.O desenvolvimento histórico e a arte como elementos que permitem fazer a leitura,revisão de etapas e ciclos.Trata-se de um processo instalador da pesquisa, para por em pratica o estudo das relações entre Arte e Ciência.Enfrentamos uma avalanche de teórias e quando elas não se concluem, fogem de imediato à objetividade, flexibilidade,conduz a falar e não explicar.
M.P- na visão de uma historiadora,poderia ser o tempo do olhar humano,pois é pelo olhar que o indivíduo encara o tempo do ele vê.Ele pode, a seguir descrever o que Vê,projetando seu olhar no pensamento,elaborando a partir daí uma narrativa sobre o que viu.
V.P-As última Bienais,a meu ver,eram "cheias",faltava um mergulho em função da tarefa artística, diante da nossa catrastrofe e esplendor.Os atuais curadores foram ousados e sensatos quanto a "um outro tempo de ver".Para o público leigo e alguns iniciantes da Arte e bom deixar claro certos diferenciais tais como:pós-modernismo nada tem que haver com pós modernidade.Para ser um pouco mais provocador:engraçado é estar em estado de graça e amoral: não ter opinião formada .A preocupação de tornar a arte menos elitista esbarra em superar contradições dos aspectos radicais e conservadores da arte.O autoritarismo e as arbitrariedades estão nas sociedades avançadas,elas são tanto prazerosas como repressoras;autoritárias como lirbetárias.A idéia de ver um espaço vazio,intriga, pois descontruimos e estamos diante de um outro tipo de corpo.Os corpos constituem uma forma de falar.Que tal sair do humanismo sentimental de Michel Focould?Existem conceitos referente ao humanista,um deles é no Renascimento tendo o homem como o centro das atenções acadêmicas.Trazer à tona controversias e afinidades tende a um efeito criador.A Bienal Paralela,já na sua quarta edição,no Liceu de Artes e Ofício de São Paulo reunirá 61 artistas e 11 galerias -a grande Mostra chamada off-Bienal, poderá ser amplamente apreciada em todo o seu contexto,inclusive com a participação de artístas que já, por várias vezes, estiveram na Bienal de São Paulo e dessa vez, estão fora,apenas, alguns kilomemtros.Esse processo de induzir a criar, aproveitando-se do evento,serve em muito para se diagnósticar o Aqui e Agora.