sábado, 27 de dezembro de 2014

O DESPREZO DAS ARTES CLÁSSICAS NO BRASIL. INOVAR NÃO É BANALIZAR


Não há como estabelecer comparação em termos dos  chamados espetáculos clássicos no Brasil principalmente, no eixo Rio/São Paulo tomando como exemplo alguns eventos nos espaços abertos ou em recintos fechados em países com tradição nessa especialidade. São referenciais adquiridos que motivam esse tipo de programação cultural. As temporadas são sugeridas por administradores e especialistas conhecedores do assunto e não por gente do “ramo” geralmente nomeada pelo conhecido QI (Quem Indica).
 Não se adquire de um momento para o outro o hábito de apreciar sem antes ser incentivado por estratégias motivadoras e consequentemente aplicar e usufruir da pratica de uma metodologia específica para cada abordagem.  O que se tem visto no Brasil é uma improvisação exacerbada cercada de um diletantismo de dar inveja a qualquer cantor iniciante do “hit pared”. É uma desconstrução negativa no qual os valores adquiridos ao longo dos anos são descartados em face dos eufemismos e utopias aplicados.

Os produtos culturais não são uma mera mercadoria. Existem produtores e consumidores que fomentam a indústria cultural com sapiência. Entre o que contempla e é contemplado temos uma mercadoria que deve ser consumida para que se tenha uma avaliação se os fins foram alcançados.

 Que sentido há em fazer alusões às montagens ao ar livre em países como os Estados Unidos, Alemanha, França, Itália e outros que adotam essa empreitada de popularizar o clássico. A meta é abrir possibilidades para proporcionar ao público em geral e principalmente os que não tiveram acesso a uma arte chamada de elitista de entrar em contato com um tipo de expressão distinto dos seus costumes. Os bons resultados são colhidos mediante projetos que diferenciavam a clientela alvo, dessa forma instigando a empatia do espectador. Não se pode falar o mesmo em relação às programações esporádicas e festivais implantados com suposta finalidade de permitir o acesso dos “excluídos”. 

Os mais significativos teatros no mundo que acolhem as programações clássicas costumeiras ou as atuais voltadas para esse segmento de ante mão sabem que não há lucro. É insignificante o apoio do Estado no Brasil, no exterior a iniciativa privada é mais participativa. Bons resultados foram registrados com os apadrinhamentos e recursos injetados na formação de orquestras, corais, grupos de danças, teatro nas comunidades carentes na periferia das cidades brasileiras. 

O Teatro São Pedro e Municipal ambos em São Paulo pretendem incluir compositores brasileiros contemporâneos de óperas em 2015 na sua programação. Vejamos em que isso vai dar? As “temporadas” de óperas no Brasil optam por uma programação pequena. Não há a mínima possibilidade de se apreciar títulos diferenciados dos já comumente encenados por falta de estrutura e competência. O mesmo ocorre em relação aos concertos que só fogem do cotidiano quando são orquestras estrangeiras que nos visitam. A Dell'Arte empresa cultural e de entretenimento fundada em 1982 pela empresária Myrian Dauelsberg e sediada no Rio de Janeiro é sem dúvida a responsável pela excelência de eventos clássicos,
O sucateamento do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em locações ou empréstimos para todos os tipos de comemorações é trágico e demonstra a desqualificação dos seus diretores. Por décadas acolheu o baile de gala do carnaval da cidade Rio de Janeiro não se sabe como  a sua arquitetura não desabou.   A entrada dos teatros sem exceção em dia de função é tomada por todos os tipos de ambulantes, cambistas e pedintes. Calçadas são tomadas de lixo.  A direção ou a prefeitura jamais coibiu essa bandalha.

São válidas que essas programações culturais fujam dos espaços tradicionais e possam trazer possibilidades de emprego e fomentar o turismo. Nesse último item para se obter sucesso torna-se necessário no mínimo uma terceira edição do projeto. Fácil citar as montagens de balé de New York, a ópera em Sidney, a filarmônica de Berlim, o festival de Nantes, os concertos ao ar livre na Áustria etc...  Deve-se ressaltar que tudo é feito com muito comprometimento e envolve a contratação de bons profissionais em todos os seus segmentos e etapas. 
O conhecimento e manejo da arte possuem peso relevante para se alcançar o sucesso.  Não dá para citar os renomados eventos ao redor do mundo como motivação para inseri-los de base entre-nos ou para salvaguardar erros realizados com frequência nos poucos conceituados teatros no Brasil. O que temos visto é um amadorismo que só serve para destruir o bom padrão de décadas cultuado com esmero e competência.Rotular ou criar títulos contestadores como: “Pop”, “pós-moderno” etc não dá nenhuma legitimidade.  O projeto “Aquário” do jornal“ O Globo” é um dos raros eventos que atrai o grande público propiciando uma iniciação na esfera da música clássica.

 Na ilusão de que há um “novo público” interessado - o mesmo que clica seus celulares e máquinas fotográficas e fica robotizado e disperso sem a mínima atenção nos espetáculos é engano. Afinal esse público tem uma escola deficiente, está automatizado perante os aparelhos manuseados e no seu currículo escolar não há a disciplina musical (como antes) que motive o gosto e consequentemente a compreensão da música. Os sucessivos governos não conseguem despertar o senso crítico e gerar espectadores interessados, Não existe um planejamento educativo em longo prazo . A maioria dos restaurantes e bares das cidades substituiu a música em geral pelo aparelho de TV. O estrago dessa apatia reflete a falta de um direcionamento correto no sistema educacional. Isso explica em parte a falha no comportamento social ao se verem diante do desconhecido.

É primário dar como exemplo alguns acertos em montagens bissextas. Nas últimas décadas as temporadas têm sido obsoletas; cenografia, iluminação e figurinos paupérrimos ou fora do contexto. Um declínio lamentável, pois o Rio de Janeiro já teve central de produção técnica e grandes nomes internacionais da dança ativos e se tornaram professores escolhendo essa cidade não só para viver como profissionais ensinando padrões técnicos e interpretativos das mais renomadas companhias de dança do mundo.

 A ópera teve exemplos imprescindíveis de fora para dentro. O Rio de Janeiro já sediou um dos mais importantes concursos internacional de canto lírico com adesão de um grande público e, por conseguinte fomentando o gosto pelo bel canto. Hoje apresenta uma temporada minguada e irrelevante. Uma repetição irritante e sem imaginação. 
   
O aspecto inovador não é o fato de apresentar o “novo” e sim utilizar-se de todos os conhecimentos já adquiridos e repassá-los. Esses mestres imigrantes trouxeram na sua bagagem a escolha concernente às obras escolhidas, autores, diretores e artistas enfim, todos os componentes necessários. Para ressaltar a complexidade  de um espetáculo é preciso ter a consciência de que se lida com gerações diversas entre elas a dos mais jovens, ou seja, a geração Z na porta de entrada e totalmente dependente da tecnologia de massa. Destinados e propensos a divulgarem seu subjetivismo, suas “ideias” e em parte menosprezar os conteúdos das múltiplas culturas. É um desterritorizar sem finalidade, tendo como praxe largar os conteúdos formativos existentes. São tribos sociais sem lastros coesos a consumir de tudo e ainda não definidos para dizer por que vieram.  No caso especifico, talvez, a intenção de burlar o sistema ou pelo menos preconizar um alarde em face da confusa heterogeneidade sócio cultural vigente.

Há um desiquilíbrio qualitativo na arte em todos os níveis e
 mais comum entre-nos que a cada ano se acentua e dificulta o manuseio do senso-crítico. Afasta os que possuem uma bagagem cultural, pois não há mais acréscimo. Alguns insistem em contribuir prestigiando com suas presenças e dando informações aos curiosos. Nada contra inovar. Formar o público sem ter por obrigatoriedade alijar os que têm gostos duvidosos. Estabelecer a comparação, o diálogo, à discussão, descartar a improvisação são regras a serem seguidas. O imediatismo é próprio daqueles que não querem se confrontar os que continuam presos à tentativa de criar um “novo” sistema e, por conseguinte fazer uso do descompromisso passando por cima de tudo e de todos como se fosse uma máquina destrutiva.

 Reiterando: - querer trazer mudanças para marcar presença e conseguir verbas sem antes ter criado um projeto embasado é uma medida delapidadora. Outro aspecto importante é educar o público dando-lhe conhecimento de como interagir diante das influências da música clássica e como se comportar para usufruir de uma oportunidade que somara positivamente na sua formação. Proibir os irritantes celulares, máquinas fotográficas, crianças de colo chorando, pessoas comendo na hora do espetáculo, entrando depois da cena aberta é demonstrar a preocupação de compartilhar com o bem estar do todos

Tem sido de praxe a contratação de artistas estrangeiros sem a qualificação devida, a maioria não sinalizam para as exigências e perspectivas de informações desejadas. O valor comparativo é básico para o aprimoramento do conhecimento. Um dos bons exemplos é o Concurso Internacional BNDES de piano do Rio de Janeiro que está na sua IV edição em 2014. Reúne participantes de vários países com suas escolas diferentes. Os ingressos são gratuitos e o público corresponde a esse chamamento indo ao encontro e às normas apresentadas com satisfação.  

Não ser elitista é não escancarar as portas para “realizações” que não valorizem a arte como um todo e não complete o próprio homem.  Existem sim grandes diferenças no ato de criar e gerenciar a Arte.

Vicente de Percia - Membro da Bow Art International, Associação Brasileira e internacional de críticos de arte. 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Vicente de Percia comenta: MAIS VALE UMA PERNA QUEBRADA QUE UM TORNOZELO TORCIDO

   
A comunicação pode ser feita sem criatividade? Trata-se de uma pergunta pertinente, principalmente para quem acompanha a atuação da mídia? Há vínculos entre cultura e comunicação que se destaque ou pelo menos se aproxime de um questionamento embasado? Sistemas ou meros pronunciamentos exercem poderes para desvendar as barreiras e as inter-relações em relação à psicologia e aos objetivos da criatividade e da comunicação? Como desvendar e aplicar corretamente a comunicação que não tende a ser nociva e seja um bom atalho para promover e incentivar à criatividade (sistemas verbais e não verbais)? Essas séries de perguntas são motivadoras para que o público em geral possa chegar a um consenso,  em relação a esse final e início de século.
Definir cultura nos tempos atuais, por incrível que pareça se tornou um quebra cabeça movido por conceitos tão diversos e complexos que dá inveja a qualquer palco de plenário ou púlpito de pregações.  Tanto faz  que a transmissão de conhecimento seja explicita ou implícita o importante é que reflita o desenvolvimento da ideia e vá ao encontro do seu objetivo.
Existem fatores prejudiciais nos quais a omissão de não divulgar fatos pertinentes aos acontecimentos com isenção de opinião é um retrocesso indescritível. A maioria das organizações aplicam suas censuras mediantes seus comprometimentos econômicos e os grupos de empregados existentes nesses meios são reféns de uma atmosfera de desconfiança, insatisfação causada por pautas e segmentos pré-elaborados sem prévia discussão.  Os que se rebelam sofrem um tombo profissional fora as consequências sócias psicológicas – uma entorse cuja dor constante o coloca diante de uma inércia rudimentar.
No tocante à pluralidade dos posicionamentos acerca do conceito de cultura se estabelece inicialmente que a criatividade seja como a nascente para fluxos e refluxos dos seus afluentes os quais propiciam o crescimento de outros fenômenos e metas, entre eles as representações simbólicas do homem; as ciências e o existencial no qual as tradições visibilizem componentes essenciais da natureza.
A mídia hoje nomeia seus informantes, em larga escala, e não estudiosos conhecedores do assunto.  A maioria é chamada de “celebridades” e não tem o mínimo conhecimento acerca da matéria em questão.  Cumprem com suas “obrigações”, horários - é burra, pior que o ignorante e descompromissada com a verdade.  É a solução imediata e “correta” existente posta em pratica para uma audiência desejada.  Algo que não se pode omitir é o marketing aplicado em todas as estruturas da comunicação, pois é o alicerce que promove e acelera o faturamento de uma organização. As metas sociais são meras alegorias que ajudam justificar outros fatores de índoles escusas.
A criatividade e a comunicação não são similares mais caminham paralelamente para o mesmo fim. São tanto envolventes quanto apolíneos; salutares ou denunciadores na medida em que possam ser vistos admirados, assimilados e com isso devem espelhar a expressão do indivíduo que traz no bojo o testemunho da vida aliado aos seus sentidos.
 O potencial de cada um demostra as diferenças e estabelece conceitos. Nesse antelóquio leva-se em consideração o individual, as metáforas e analogias perante o tema. As estratégias e os conteúdos utilizados seguem-se em vários direcionamentos em sentidos (transversal, vertical, horizontal) e possibilita o Ser a interagir mediante as várias ferramentas e instrumentos para expressar a maneira concreta das relações existentes e concluir sua tarefa.


quarta-feira, 26 de março de 2014

O Efeito Globalizador nos Horizontes da Arte

Por Vicente de Percia
   
     Em todo fim de ano,é de praxe os meios de comunicação fazerem    reprises dos acontecimento.  torna-se habitual àqueles que prendem a opinião pública. Os argumentos utilizados não se ficção  em aspectos formativos ou em notícias que tendem a implantar o hábito de um senso crítico Tal fato ocorre porque diante de um receptor acostumado a engolir o que lhe é imposto,ele aceita a informação com passividade e atende ao imediatismo do consumo. O elemento emotivo e "sensacional"  torna-se  o preferido,sempre realizado através de discursos repetitivos, praticamente inclusos em todos os meios de comunicação.Em verdade, esta postura adotada só vinga porque a generalização da imagem e da informação não foge ao imediatismo ( sujeito é imagem)  e adere ao acúmulo de notícias que devem ser mostradas,sendo a grande maioria delas irrelevante.De fato, não propicia   atitudes que deveriam criar métodos para educar e servir  como  estratégia motivadora,   indispensável para despertara reflexão questionadora   Estes discursos passam então,  a ser, com frequência, pertinentes com todos os seus atributos de linguagem reiteradas Consequentemente,nisso já se denuncia o efeito globalizador repleto de "normas" que transformam  o texto em um produto de ganho fácil, supérfluo,utilizado, normalmente  por um longo período pelos tentáculos da mídia para uniformizar consciências.Tem-se, aí,uma propaganda  direcionada com intenções pragmáticas objetivando  o  consumo e o "convencimento da coletividade.

    A axiologia de "valores" volta-se   apenas para atrair o espectador e este posicionamento    é adotado  sem restrições.Não visa a   liberar novas inserções de aprendizagem, pois criar uma notícia,   mesmo  consistente,  é um risco. Vê-se, também,   que isso  ocorre em outros segmentos da cultura.No caso específico da Arte, nota-se  esta mesma "unanimidade" ,impositiva e massificadora , que impede que a expressão artística surja fora de uma sistematização dominadora.Portanto,    que sua existência deva  passar pelo cotidiano, engajada aos fatos do mundo. e traga um somatório de informações capazes   de identificar pretensas rupturas ou o olhar seja voltado para um individual consistente. 
 Portanto,é necessário observar  o mundo,de forma que sejam visualizadas  outras janelas através das quais  os assuntos insiram sobre a sociedade na sua estrutura orgânica e sensível.  buscando-se  o diálogo e a reflexãosem massificações sociais.  
  Este processo representa a castração brusca em relação ao desenvolvimento desejado - intuição e trajetória cultivadas e  postas de lado. Apesar das crises nos relacionamentos do Homem com o Homem e com a organicidade do mundo,desejamos  um futuro melhor. Temos acesso somente a poucas formas de comunicação que ressaltem um olhar diferenciado advindo de tentativas com erros e acertos.Contudo,  o oposto deve ser observado, também como alertam  as notícias herméticas e  pretensiosas que colocam  o leitor contra a parede ao conferirem à   obra de arte o status quo de também     consentir em entrar"no jogo para não se sentir excluída.
 Estes argumentos comprometidos, buscam criar mitos, personalidades e uma qualificação quantitativa profissional que afasta a possibilidade de se fazer uma investigação coerente. Com isto,  o receptor sente-se aprisionado e para  não ser minimizado consente e aceita   a informação,mesmo que ele não a compreenda. Ativar um novo experimento que mexa com valores e que componha um corpo em um processo de criação torna-se um instrumento de sedução para aproximar o público.Afinal, parece-me ser este   o significado verdadeiro    da cultura.
 A estratégia discursiva globalizante produz uma falsa verdade, visto que a relação entre realidade e linguagem não condiz com a essência da Arte,   tão relevante como a própria vida. Calcar só sobre um aspecto com funções conotativas estabelece uma dicotomia e denuncia os interesses que estão por detrás da dinâmica deles. “A Arte Nasce do Novo"constitui   um chavão acadêmico, pois este "novo"  é repetitivo e não dá chance  para que o indivíduo use a sua sedução para expandir livremente sua sensibilidade em múltiplos sentidos. 
  Segundo penso, existe um magiscísmo, por intermédio do qual   os impulsos do artista possam exteriorizar  suas peculiares diferenças.E, inclusive traduzir o   que o Homem pensa ser uma obra estética, assim como   a questão do Belo entre vários tópicos em torno da Arte diante das coerções e ditames planetários.  Pontuações sobre a imagem artística não podem ser decididas por meio de “acordos"pragmáticos.Sem dúvida,o que importa é que a ideia do  valor pessoal, intrínseco se presentifique, em liberdade,  mediante os  mais variados segmentos da natureza humana.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

"Imprensa russa se autocensura", diz chefe da Repórteres sem Fronteiras

A poucos dias do início das Olimpíadas de Inverno de Sochi, marcado para 7 de fevereiro, a realização do evento na Rússia é vista por críticos como uma propaganda de governo. A polêmica em torno do desrespeito aos direitos humanos na preparação dos Jogos – a exemplo de relatos sobre desalojamentos forçados, leis de internet mais rígidas e atitudes de rejeição a homossexuais – levou líderes internacionais como o presidente alemão, Joachim Gauck, a cancelarem a ida a Sochi.
Para o diretor-executivo da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Christian Mihr, a imprensa – tanto a nacional quanto a internacional – pode sofrer para cobrir o evento por causa da ampliação do monitoramento de vários meios de comunicação e da internet. "Muitos jornalistas dizem que essas leis causam muita tensão no interior da própria imprensa, que acaba se autocensurando", afirma, em entrevista à DW.
Deutsche Welle: Em poucos dias, começam as Olimpíadas de Inverno em Sochi. No ranking de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, a Rússia aparece em 148° lugar, de um total de 179. O que restringe tanto a liberdade de imprensa na Rússia?
Christian Mihr: Desde maio de 2012, quando Vladimir Putin iniciou o terceiro mandato presidencial, foram sancionadas várias leis que permitem a censura e o monitoramento amplo de vários meios de comunicação, especialmente a internet.
Muitos jornalistas dizem que essas leis causam muita tensão no interior da própria imprensa, que acaba se autocensurando. Além disso, observamos muitos ataques a jornalistas na Rússia. Desde 2000, registramos 30 mortes de repórteres no país. Só nos dois últimos anos, houve mais de 30 ataques – a maior parte deles passou impune. Grande parte dessas agressões aconteceu no Cáucaso Norte – ou seja, a região onde serão realizadas as Olimpíadas.
Como o Estado russo controla a imprensa?
Existem praticamente só meios de comunicação estatais ou próximos do governo. As redes de televisão na Rússia têm todas mais ou menos a mesma linha. Especialmente esse tipo de característica é muito perigosa para a liberdade de imprensa porque a televisão é a principal fonte de informação política para a maioria da população russa.
Que leis impedem o trabalho de jornalistas na Rússia?
O exemplo mais atual é a reformulação da lei de internet, que ficou mais rígida e que vai entrar em vigor no dia 1º de fevereiro. Com a nova lei, o governo poderá bloquear sites com "conteúdos extremistas". Estes sites podem incluir convocações para protestos não autorizados que também podem ir parar nos sites de jornais ou outras publicações.
Em novembro de 2012, a Duma [câmara baixa do Parlamento russo] aprovou uma lei sobre traição da pátria e espionagem. Agora, traição da pátria é tudo que ameaça a segurança do país. Isso pode se tornar um problema para jornalistas que relatam sobre temas sensíveis de segurança.