segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

PÓS- PÓS-MODERNISMO NA LITERATURA?

Ah, liberdade, quantos crimes se cometem em seu nome!

Seria incorreto dizer, como alguns críticos têm dito, que o recém-lançado Freedom, de Jonathan Franzen, é uma espécie de continuação de seu brilhante The Corrections (2001), vencedor do National Book Award de Melhor Livro do Ano, nos EUA, e que se tornou best-seller internacional. The Corrections é considerado uma obra literária de gênio que definiu toda uma era na sociedade americana. Freedom (2010, Farrar, Straus and Giroux, 576 págs.), aborda outra era, pós-ataque terrorista em Nova York, 11 de Setembro de 2001. É outra sátira, ainda mais cáustica, à família contemporânea, à política, aos negócios inescrupulosos, à malaise do início do século. O tempo marcha, o relógio marca, e não há soluções. Seu gênero, descrito como "realismo histérico, pós-pós-modernismo", sacudiu os alicerces da literatura americana.
Inteligente demais para agradar as massas, não está ao nível popular de Stieg Larsson. Para começar, Franzen é um estilista extraordinário, respeitado pelos mais exigentes críticos ingleses como o equivalente a Martin Amis: sua narração se compõe de longas frases elegantes; a erudição transborda no talento linguístico do autor, assim como a ironia ferina; os perfis psicológicos de seus personagens são completos e perspicazes. Seria incorreto dizer que Freedom é melhor que The Corrections. Mas é possível que seja mais profundo e, portanto, mais duro de digerir. Sua preocupação: como achar significado num mundo repleto de distrações inconsequentes.
Freedom conta o epopeia dos Berglunds, típica família da alta classe média do Meio Oeste, de valores liberais honestos, contra o governo George Bush, e valores domésticos deploráveis. Como os Lamberts (Arthur, Enid e seus três filhos) de The Corrections, os Berglunds (Patty, Walter e seus dois filhos), de St. Paul, Minnesota, vivem de dramas psicológicos e sexo extraconjugal. Os Lamberts tentam a riqueza fácil explorando o caos da derrocada soviética na Lituânia; os Berglunds, capitalistas autênticos, tiram lucro da guerra no Iraque. Patty e Walter são da geração baby-boom, frutos dos anos 50, com direito a felicidade, paz e satisfação garantidas no futuro. Não foram informados de que enfrentariam terrorismo e crise financeira. Os filhos, Joey e Jessica, só dão decepção e tristeza.

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