sábado, 23 de abril de 2011

A EUROPA EM SEU LABIRINTO


Por Roberto Savio, de Other News
Tradução Antonio Martins
O presidente do Conselho de ministros de Finanças da Europa e primeiro-ministro de Luxemburdo, Jean Claude Junker, ficou famoso por ter declarado: “Todos sabemos o que deveríamos fazer, mas se o fizéssemos perderíamos todas as eleições”. Esta frase, uma declaração de impotência da política, indica o caminho que o continente está seguindo.
O governo de Portugal é a última vítima deste caminho. Todos os mecanismos criados pelas instituições europeias para ajudar seus membros em crise estabelecem como condição eliminar o déficit orçamentário nacional. Mas já temos dados suficiente para saber em que estamos nos metendo.
Grécia, Irlanda e agora Portugal têm acesso a centenas de bilhões de euros de ajuda. Mas trata-se de empréstimos e embora os juros sejam um pouco mais baixos do que cobram os bancos privados, permanecem muito altos. Acumulam-se a cada dia. Para receber tais créditos, os governos comprometem-se a cortar seus orçamentos mais do que seria politicamente aceitável. E no caso de países com alta dependência do gasto público para sua estabilidade e crescimento, cortes drásticos significaram sempre desaceleração econômica, quando não inflação, o que torna ainda mais difícil pagar cada euro da dívida.
Em economia, a isto se dá o nome de “a armadilha da dívida”. O remédio tradicional era desvalorizar a moeda nacional, o que agora é impossível para os 17 países que adotaram o euro como moeda única – ou, então, declarar algum tipo de moratória, igualmente impossível, já que arrastaria todo o castelo europeu. Simon Tilford, economista-chefe do Centro para a Reforma Europeia, de Londres, escreveu: “Há um limite para os cortes de orçamento que um governo pode aplicar e sobreviver politicamente” se não se vê, como luz no fim do túnel, uma perspectiva de crescimento econômico.
Mas sabemos que esta luz não se vê na Grécia, Irlanda ou Portugal. As estatísticas dizem que os Estados não puderam aumentar suas receitas – ao contrário. Em boa medida, porque o déficit social aumenta, com desemprego e redução de investimentos privados e sobretudo públicos. Como observou Antonio Nogueira Leite, economista do Partido Social Democrático português (opositor e à direita do primeiro ministro demissionário José Sócrates): “As probabilidades de que a Grécia tenha de reestruturar sua dívida não são menores que há um ano e os negociadores levarão isso em conta, quando discutirem o tipo de juros que se aplicará aos empréstimos europeus”. E a revista Economist escreveu: “O plano internacional para salvar a Grécia está paralisando o país”.

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