Marco Antonio Seta, em 19 de maio de 2012.
Sinfônica Municipal em noite feliz em concerto infeliz no Municipal de São Paulo. Com o Theatro Municipal com apenas um terço de sua lotação na noite de ontem, sexta-feira, dia 18 de maio A Orquestra Sinfonica Municipal de São Paulo tocou muito bem , sob a direção de Abel Rocha. Cordas coesas, sonoras, sopros de madeira e metal idem no concerto de Brahms. Como solista a refinadíssima pianista Cristina Ortiz, radicada na Inglaterra há muitos anos, solou o concerto para piano e orquestra nº 2 , op. 83, em si b maior ao lado de nossa orquestra. O difícil concerto do mestre alemão romântico Johannes Brahms (1833-1897), deu-se na interpretação da grande pianista, porém sua leitura deste se resumiu a uma correta releitura das páginas que lhe couberam, cuja interpretação foi apenas regular, sem maiores refinamentos musicais e expressividade técnico-interpretativas. Passou pela partitura e quem realmente interpretou foi a Sinfônica Municipal numa sonoridade há muito tempo não ouvida por aquela orquestra. A pianista foi solicitada ao final até conceder um bis (da Suíte Bergamasque, tocou "Clair de Lune" numa leitura apenas correta, nada contendo de sublime numa página tão popular e histórica do impressionismo musical).
A platéia presente, como já foi registrado (apenas um terço da lotação do teatro), quase que totalmente despreparada musicalmente, aplaudia a cada mudança de movimento do concerto: quando isso ocorre, é por que não há educação musical na platéia, o que é gravíssimo numa cidade como São Paulo; requerendo do maestro titular da orquestra e do teatro Educar ! sim.......esse público, elucidando-o, quando é que se deve aplaudir, falando-lhe, nas entre linhas, que só é recomendável aplaudir ao final do concerto ou da sinfonia apresentada (como muitas vezes faziam Eleazar de Carvalho e John Neshiling na prestigiada OSESP). Caso contrário, a coisa vai de mal a pior a cada função em nosso maior teatro. Isso se faz neessário corrigir urgentemente.
Mas o pior estava por vir na segunda parte da noite, após um intervalo de quinze minutos. Do celebrado Segei Rachmaninoff (1873-1943) escolheu-se "Os Sinos", Op. 35. O maestro explicou que o compositor havia escrito uma terceira sinfonia para orquestra e acrescentou esse título à obra baseada em seus movimentos em número de quatro. Disse também que a cantora estava gripadíssima, mas que mesmo assim cantaria sua parte. O resultado não poderia ser pior. Cantou? não cantou: apenas murmurou o que lhe cabia. Laura de Souza (soprano lírico) que realizou uma boa carreira internacional na Alemanha, voltou ao Brasil, todavia suas atuais condições vocais já não lhe permitem mais atuar; basta nos lembrarmos de sua infeliz atuação em " Madama Butterfly", em 2008, no ano do centenário da imigração do Japão no Brasil., quando revezou com Eiko Senda nesse imenso personagem Pucciniano. Foi um desastre a sua apresentação nestes "Sinos", uma voz totalmente velada, murmurada, e que em nenhum teatro de respeito, entraria em execução num concerto desse gabarito e dessa proporção, tamanha a grandiosidade da obra do mestre russo. Na mesma gama de importância, participou o baixo-barítono Licio Bruno, vindo do Rio de Janeiro. Totalmente despersonalizado, incorporou um (lento lúgubre) último movimento da peça, que na realidade, é uma cena de lamento, poética, e de introspectividade, como se fosse uma cena dramática da ópera verdiana (mais parecia um "Macbeth" à moda russa), totalmente inadequado às inflexões da maravilhosa sinfonia de Rachmaninoff. Tudo inadequado, complementado pela participação do tenor "leggero" Paulo Queiroz, também inadequado a essas páginas. Quanto ao Coral Lírico, detentor de imensa masa vocal e poderosa grandiosidade dramática, poderia-se exigir um maior preparo de dinâmica vocal, o que dosaria melhor o seu volume sonoro na massa musical junto à orquestra, que também interpretou muitíssimo bem a difícílima escrita musical e, já considerada ousada, para um momento em que ainda não havia entrado o movimento impressionista na história da música, denotando aí a grandiosidade de que foi o russo Rachmaninoff.
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