quarta-feira, 22 de agosto de 2012

PRESSÃO URBANA EM FOCO


Relatório da Habitat-ONU com foco em cidades latino-americanas revela dados sobre pressão urbana, meio ambiente e habitação. Números podem servem de base para elaboração de políticas públicas
Por Giovana M. Ferreto, no Deutsche Welle
O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) apresentou nesta terça-feira (21/08) um relatório com informações sobre população e urbanização nas cidades latino-americanas. De acordo com o estudo, a taxa de urbanização no Brasil e nos países do Cone Sul chegará a 90% até 2020.
No relatório inédito, chamado Estado das Cidades da América Latina e Caribe, foram abordados tópicos como desenvolvimento econômico, habitação, espaços públicos, serviços básicos urbanos, meio ambiente e governança urbana.
Para o Diretor Executivo do ONU-Habitat, Joan Clos, o relatório é uma “ferramenta útil na formulação de políticas públicas que permitam avançar em direção às cidades com melhor qualidade de vida”, já que, em cinquenta anos, a quantidade de cidades aumentou seis vezes na América Latina.
No relatório ainda são abordados problemas provenientes da urbanização acelerada, como pobreza, desigualdade de renda, emissão de gases de efeito estufa, violência, disparidade de gênero e saneamento.
Atualmente, metade da população urbana latino-americana (mais de 222 milhões de pessoas) reside em cidades com menos de 500 mil habitantes, e 14% – um total de 65 milhões de pessoas – residem em megacidades. A urbanização de cidades intermediárias é incentivada pelo acesso a água, saneamento e outros serviços básicos.
O estudo também apresenta recomendações aos governos. Visando cidades com níveis elevados de qualidade de vida e sustentabilidade, o relatório sugere que sejam implementadas políticas de planejamento, concepção e regulamentação, fortalecendo a estrutura para os mercados imobiliários. A ideia é aproveitar a riqueza gerada no meio urbano para reinvestir no desenvolvimento de novas infraestruturas.
Problemas e possíveis soluções
A região da América Latina e Caribe é a mais urbanizada do mundo, embora seja também uma das menos povoadas em relação ao tamanho do território: quase 80% de sua população concentra-se em cidades. No México e nos países da região Andino-Equatorial, a taxa de urbanização passa de 85%; no Caribe e na América Central, o crescimento urbano é constante e deve chegar a 83% e 75% em 2050, respectivamente.Os países latino-americanos conquistaram progressos significativos no combate à pobreza ao longo dos últimos 10 anos, mas, em números absolutos, a proporção de pobres ainda é elevada. Nas áreas urbanas, uma em cada quatro pessoas vive em estado de pobreza. O número de pessoas vivendo em habitações precárias chega a 111 milhões – superior ao número verificado há vinte anos.
Muitos governos de América Latina e Caribe possuem projetos de habitação e políticas públicas de auxílio. Porém, a carência é tão grande que garantir habitação digna para todos não é algo que se consiga alcançar em curto ou médio prazo, sugere o estudo.
A recomendação seria juntar estratégias de crescimento econômico com políticas orientadas a combater a desigualdade de renda e a promover qualidade de vida e medidas de integração territorial e social.

domingo, 12 de agosto de 2012

JAMES JOYCE


Ullysses completa 90 anos. E se nos atrevêssemos a enxergá-lo como revelação do capitalismo dentro de nós?
Por Alexandre Pilati
Nos meios literários, junho é tradicionalmente um mês dedicado a reflexões sobre oUlysses, romance revolucionário de James Joyce (1842-1941). No dia 16 deste mês, comemora-se o Bloom’s Day, pois esta é a data em que se passa a ação do livro do autor irlandês. Em 2012, o “Dia de Bloom” é ainda mais especial, pois nos encontramos a noventa anos da publicação da obra. Além disso, o recente lançamento do filme Notícias da antiguidade ideológica (Versátil Home Video, 2011), de Alexander Kluge provoca a reflexão sobre a dinâmica de forças estéticas/filosóficas/históricas que envolvem os nomes de Marx, Joyce, Kluge e Eisenstein.
Nestes 90 anos, o Ulysses foi pródigo em espalhar mundo afora fascínio e polêmica. Como monumento incontornável da moderna literatura ocidental, o romance do autor irlandês não para de seduzir críticos, ao mesmo tempo que se conserva à prova de qualquer leitura que seja capaz de aludir à totalidade de sua eficácia estética. Como sempre ocorre em grandes obras, qualquer leitura do textoparece ser bem menor do que o próprio texto; mas isso, no seu caso específico, adquire uma consistência ainda mais lancinante. Se já é um tormento para os críticos do livro tentar acercá-lo e compreendê-lo, imaginemos o tamanho da tarefa de inverter um pouco a ordem natural da coisas e usar o Ulysses como método de compreensão de um construto crítico-teórico como O Capital, de Karl Marx (1818-1883).
O primeiro a se propor esse desafio foi o cineasta russo Sergej Eisenstein (1898-1948), que alimentou a ideia por fim malograda de filmar OCapital a partir do método estético empregado por James Joyce em Ulysses. Joyce ansiava por conhecer Eisenstein, porque julgava que ele seria o único cineasta capaz de filmar o Ulysses. Por outro lado, o cineasta russo procurara Joyce porque julgava que O Capital poderia tornar-se filme estruturando-se de modo similar ao Ulysses, graças à concentração nos movimentos triviais de um homem comum em apenas um dia de sua vida.