quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DESAFIO DO SÉCULO XXI

Por Ricardo Abramovay
Pecuária, soja, energia e minérios: esses são os vetores estratégicos que norteiam a maioria dos atores privados e públicos na Amazônia brasileira. Os efeitos são bem conhecidos. Não se criam cadeias produtivas capazes de agregar valor ao que se faz localmente. A esmagadora maioria dos estímulos sinaliza aos agentes econômicos vantagens de um comportamento predatório que já comprometeu nada menos que 15% da maior área de floresta tropical do mundo e que está na raiz de sua imensa pobreza. Apenas 12% dos domicílios na Amazônia são beneficiados por saneamento básico. O próprio poder público contribui de maneira significativa para esse quadro desolador, não só pelo financiamento de iniciativas pouco inovadoras, como a pecuária, mas também pela implantação de obras que acabam resultando em pressão ainda maior sobre a floresta e pela generalização do trabalho mal pago e pouco qualificado. Dos 73 milhões de hectares derrubados na Amazônia, 60 milhões voltam-se hoje à pecuária.
A mudança nesse quadro desolador felizmente já começou. Os mercados de alguns dos produtos que dominam a ocupação da Amazônia submetem-se a pressões socioambientais crescentes, que conduzem, muitas vezes, à melhoria dos resultados de sua exploração, como no caso exemplar da moratória da soja. Ao mesmo tempo, o maior controle sobre o desmatamento, bem como a ampliação de terras indígenas e de reservas florestais, contribui para atenuar, de forma significativa, o ritmo da destruição que marca, de forma trágica, a história da região até aqui.
Esses avanços, no entanto, não são suficientes para enfrentar o grande desafio do século 21 em torno do qual se encontra a possibilidade de construir nada menos que “um novo capitalismo jamais imaginado pelos visionários de ontem”. É à análise desse processo incipiente que Jacques Marcovitch, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de um dos mais importantes estudos sobre aquecimento global no Brasil, a Economia do Clima, dedica seu novo livro: “A Gestão da Amazônia: Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas”. Esse grande desafio do século 21 pode ser descrito em torno de três eixos básicos.
Em primeiro lugar, é necessário fazer da valorização dos produtos e dos serviços da biodiversidade uma fonte consistente de dinamismo econômico e de coesão social. Está em jogo a passagem da economia da destruição da natureza para um sistema inteiramente baseado em seu conhecimento, a economia da floresta em pé. Não se trata apenas de proteção, mas de encontrar modalidades de uso da floresta capazes, ao mesmo tempo, de garantir a manutenção de seus serviços ecossistêmicos e a geração de renda para os que, ainda hoje, têm sua existência precária, tantas vezes, baseada em práticas destrutivas.
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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

GRAFITE - ARTE NOS MUROS NOS ESTADOS UNIDOS

Manchas frescas de grafite decoram placas de sinalização perto do mar. Tags têm aparecido nas grades ao longo das trilhas de terra perto do Parque Griffith, do outro lado de Santa Monica, na Califórnia.

Quase diariamente, há retoques frescos nas paredes do Vale de San Fernando, em prédios do centro de Los Angeles e em outdoors ao longo das rodovias.
E Los Angeles parece não estar sozinha ao lidar com uma recente onda de grafite, que tem transformado alguns lugares improváveis. A nova safra de rabiscos está florescendo em muitas comunidades de tamanho modesto de todo o país - em locais como Florence, no Alabama; Reserve, no Novo México; Taylors, na Carolina do Sul, e em grandes cidades como Nashville, no Tennessee, e Portland, em Oregon - enquanto grandes cidades como Chicago, Denver, Nova York e Seattle dizem que campanhas de vigilância antigrafite têm poupado seus muros.
Foto: The New York Times


Muro é coberto por grafites em Los Angeles, na Califórnia


"Tudo isso apareceu, de repente, nos últimos seis meses", disse Tim Sandrell, proprietário do Safari Adventures in Hair, de Florence. "Eu tenho o salão aqui há 10 anos e estou realmente desapontado que nós estamos vendo esse tipo de atividade agora. Temos uma bela cidade histórica, e é muito perturbador para mim ver isso acontecendo".
A onda de grafite gerou preocupação entre as autoridades da cidade e reabriu um debate sobre a glorificação da prática - seja em peças de museu, tatuagens ou anúncios de televisão - ter contribuído para o retorno do que consideram uma praga urbana e um sinal de decadência econômica. Mas ela também gerou um debate sobre o que tem causando esse aumento recente e se ele pode ser um indicador precoce de que a ansiedade e a alienação estão crescendo em algumas áreas urbanas lutando por causa do desemprego teimoso e persistente trazido pela recessão.
Estatísticas
As últimas estatísticas de Los Angeles, onde a taxa de desemprego era de 11%, atestam um problema crescente: a cidade teve removidos 3.288 metros quadrados de grafite no ano fiscal que terminou 30 de junho, um aumento de 8,2% em relação ao ano passado, segundo as autoridades. "Nós vimos a quantidade de pichações subir anualmente", disse Paul Racs, diretor do Escritório de Embelezamento da Comunidade.